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| Foto: Reprodução |
No sábado, 25 de outubro de 2025, o grupo “No Rastro dos Balaios” — formado pelos pesquisadores Adrião Neto, José Luís de Carvalho, Francisco Nunes (Nenem Calixto) e Vicente de Paula Araújo — realizou mais uma expedição histórica pela região norte do Piauí. Nesta etapa, o grupo incorporou o historiador João Passos, natural de Cocal (antiga Capibaribe), completando a equipe que tem como lema “ver de perto pra melhor contar de certo”.
Após percorrer localidades como Barra do Longá, Lombada, Tinguís, Mocambo e Frecheiras, o grupo seguiu rumo a Cocal, para investigar in loco lugares que guardam vestígios da presença dos chamados Balaios, rebeldes vindos do Maranhão que estiveram nas imediações do maciço da Ibiapaba durante o conturbado movimento ocorrido entre 1839 e 1841.
Um retorno ao passado
Para compreender o contexto dessa visita, é preciso retroceder no tempo, até o período da colonização portuguesa. A Coroa, por meio do Conselho Ultramarino, buscava povoar as áreas entre o Maranhão e o Piauí — especialmente a região das nascentes dos rios da Serra da Ibiapaba até o Rio Parnaíba.
Uma Carta Régia datada de 18 de julho de 1699, enviada ao Governador do Ceará, já demonstrava o interesse em explorar e fortificar o porto da Parnaíba, como possível ponto estratégico para o avanço português. Nesse mesmo ano, o militar Leonardo de Sá, vindo do Ceará, foi enviado à região para preparar o terreno à colonização, sob a justificativa de “bem servir a Deus e ao Rei”.
Entre 1700 e 1701, a região assistiu à chegada dos padres Ascenso Gago e Manuel Pedroso, fundadores da Missão da Ibiapaba, que desempenhou papel crucial na evangelização dos povos indígenas e na consolidação do domínio da Capitania de Pernambuco, estendendo sua influência até a barra do Rio Igaraçu (Amarração).
Sesmarias e disputas territoriais
A expansão portuguesa trouxe consigo a distribuição de sesmarias, terras concedidas a colonizadores e militares que colaboravam com a Coroa. Nomes como Pedro da Rocha Franco, Victória da Câmara (sobrinha do Pe. Ascenso Gago) e os Mestres de Campo dos índios — Dom Jacó de Sousa, Dom Simão de Vasconcelos e Dom Felipe de Sousa e Castro — foram agraciados com extensas porções de terra na região.
Outro personagem de destaque foi o português Domingos Ferreira de Veras, que, através de doações e aquisições, estruturou o chamado Morgado dos Ferreiras de Veras, abrangendo áreas desde a barra do Rio Camocim (Coreaú) até o encontro dos rios Funil (Portinho) e Igarassu (Parnaíba).
Essa faixa de terra, integrada ao antigo Siará Grande, tornou-se cenário de intensos litígios territoriais entre Ceará e Piauí — disputas que envolveram domínio político, posse de terras e, mais tarde, confrontos ligados à passagem dos Balaios.
A rota dos Balaios e o resgate histórico
O grupo “No Rastro dos Balaios” busca exatamente isso: reconstituir, a partir do território, os vestígios de um dos episódios mais turbulentos da história nordestina. O movimento dos Balaios, iniciado no Maranhão e expandido ao Piauí e ao Ceará, deixou marcas de resistência popular e embates armados entre rebeldes e tropas legalistas.
Nesta última jornada, os pesquisadores estiveram em Contendas Velha (margem da antiga estrada Viçosa–Maranhão), Cajazeiras e nas trincheiras de Boíba, locais que testemunharam parte dessas movimentações históricas.
“Encontrar os restos das trincheiras em nosso município é confimar oficialmente a importância de Cocal no contexto histórico da Balaiada," relata o historiador, João Passos, ao Evaldo Neres.
Com esta visita, o grupo reafirma seu compromisso em preservar a memória histórica do norte piauiense e em dar visibilidade às conexões culturais e políticas que moldaram o território entre o Ceará, o Piauí e o Maranhão, desde os tempos coloniais até os movimentos sociais do século XIX.
Por Evaldo Neres
Fonte: Vicente de Paula Araújo Silva




